A publicação criminosa e seletiva de conversas privadas de autoridades públicas brasileiras pelo site "The Intercept" tem alimentado um debate que foca apenas no caso do julgamento, condenação e prisão do ex-presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva e esquece quais são as verdadeiras intenções por trás de toda a polêmica criada.
Para compreender o contexto dos acontecimentos, é necessário observar, com atenção redobrada, o desenrolar dos fatos desde a desistência, inesperada e sem claras explicações, do então reeleito deputado federal Jean Wyllys. Alegando ter sido vítima de veladas ameaças, o político renunciou ao mandato em favor de David Miranda, marido de Glenn Greenwald, cuja plataforma política sustenta-se basicamente nos mesmos princípios defendidos por Jean.
Analistas de inteligência mais atentos já começaram a compreender, desde aquele momento, que a verdadeira intenção não era apenas escapar de um possível atentado ou ato de violência (dos quais nenhum brasileiro está imune), mas sim colocar Jean Wyllys na posição de perseguido político exilado e primeiro mártir do governo recém-eleito, minando, assim, a legitimidade das urnas, enfraquecendo as instituições e colocando em cheque, diante de outros governos, a legalidade do novo mandatário.
Isso poderia ser compreendido como uma ação isolada de Jean Wyllys e do seu partido político, o PSOL, num legítimo esforço de resistência política que até então estava em voga no país.
Um outro acontecimento demonstra, porém, de forma clara, que há uma orquestração que vai além de um protesto político em defesa de ideias e interesses sociais.
O ataque criminoso de um Cracker [1] aos telefones de autoridades brasileiras ligadas aos processos que envolvem o ex-presidente Lula, e a edição e divulgação de conversas com o claro intuito de comprometer a idoneidade do ex-juiz e atual ministro da justiça e segurança pública, Sergio Moro, demonstram que um grupo bem organizado ataca, de forma violenta e direta, o governo brasileiro com o objetivo de minar a opinião pública, criar instabilidade, revolta e desordem, e dar credibilidade à ideia de que a prisão do ex-presidente foi apenas uma forma de tirá-lo do jogo político e possibilitar a eleição do adversário.
Glenn Greenwald esperava que os atos criminosos cometidos contra a privacidade de cidadãos brasileiros o levassem imediatamente para a cadeia. Escondido atrás das credenciais profissionais como jornalista, o plano era que sua prisão repercutisse não como justa, pelos crimes cometidos, mas como um ataque ao direito de informação e à mídia de um modo geral. Sua prisão seria prontamente rechaçada pela opinião pública nacional e internacional, pelos políticos de forma geral, e, acima de tudo, pelos governos democráticos que simpatizam com a liberdade de expressão.
Ele não esperava ficar muitos dias preso; talvez apenas algumas horas. Mas isso seria suficiente para criar um clima insustentável que resultaria em caos.
Um fato dessa natureza, somado ao autoproclamado exílio político de Jean Wyllys, colocaria imediatamente o Brasil na lista negra dos países que praticam perseguição política e prendem jornalistas. Em poucas horas o governo Bolsonaro seria equiparado ao de Nicolás Maduro, com agravantes.
O parlamento e as autoridades brasileiras não estão acostumados a interpretar os sinais de violação da soberania nacional. Por isso ainda não identificaram (e não o querem fazer) que Glenn Edward Greenwald e os colaboradores do seu site são marionetes na mão de habilidosos operadores que tem a clara intenção de desestabilizar o governo brasileiro, e que o propósito final dos seus atos é claramente a renúncia, impeachmet do presidente eleito ou a degradação da governabilidade a pontos insustentáveis.
Os desdobramentos do resultado das eleições presidenciais de 2018 fazem-se sentir especialmente em parcela da classe política tradicional que assiste agora seus interesses ameaçados pelo firme propósito do atual governo em combater a corrupção e minar o clientelismo e a troca de favores corriqueiros nos negócios públicos.
Há muito, mas muito dinheiro em jogo. A cifra ultrapassa facilmente alguns trilhões e faz valer a pena qualquer esforço no sentido de se retomar o controle da situação.
Ao longo das últimas duas décadas estabeleceu-se um modelo de dilapidação dos recursos nacionais, por meio do loteamento das empresas estatais e da farta distribuição de financiamento a grandes empreiteiras com dinheiro público, especialmente do BNDES.
Essa sangria de dinheiro público alimenta uma ampla rede de corrupção, com ramificações bem estabelecidas em todo o território nacional. O poder de barganha e a garantia de eleição e reeleição das máfias controladoras é o que faz com que valham a pena os ataques ao modelo de gestão e moralização em curso.
[1] É o termo usado para designar o indivíduo que pratica a quebra de um sistema de segurança de forma ilegal ou sem ética.
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