Coronavírus: China vive a maior quarentena da história recente do planeta. Imagem: reprodução |
Além de Wuhan, foram impostas restrições de viagens aos moradores de Huanggang (6,3 milhões de moradores), Huangshi (2,5 milhões), Xiantao (1,54 milhão), Qianjiang (1,1 milhão), Xianning (1,2 milhão), Ezhou (1 milhão), Enshi (857 mil), Zhijiang (500 mil) e Chibi (478 mil).
Policiais bloqueiam estradas na saída de Wuhan. EFE/EPA/STRINGE. |
Os Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos classificam a quarentena como a "separação e restrição de movimento de pessoas que, embora ainda não estejam doentes, foram expostas a um agente infeccioso e, portanto, podem se tornar infecciosas".
A medida, iniciada na quinta-feira (23), inclui o cancelamento de voos e de viagens de trem, a suspensão de transportes públicos locais, como metrô, ônibus e balsas, além de bloqueios nos pedágios rodoviários.
Tudo isso ocorre em meio ao principal feriado chinês, o do Ano-Novo Lunar, que é comemorado neste sábado (25) e dura uma semana. Milhões de pessoas viajam nesta época dentro e fora da China.
As tradicionais festividades foram canceladas em diversas cidades, inclusive na capital, Pequim. A Disney em Xangai também anunciou fechamento temporário.
"São medidas duras, em que você cerceia a liberdade de locomoção... mas eu não vejo isso com algo ruim. No caso da China, a densidade populacional é muito alta e o fluxo de pessoas, que normalmente já é intenso, seria maior ainda por causa do feriado do Ano-Novo lá", explica a médica infectologista do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, em São Paulo.
Em um artigo intitulado "Lições da história da quarentena, da peste à gripe A", a pesquisadora italiana Eugenia Tognotti, da Universidade de Sássari, lembra que a medida tem sido utilizada como estratégia de saúde pública desde o século 14.
"No novo milênio, a estratégia secular de quarentena está se tornando um componente poderoso da resposta da saúde pública às doenças infecciosas emergentes e re-emergentes. Durante o surto de 2003 da [SARS] síndrome respiratória aguda grave, o uso de quarentena, controles de fronteira, rastreamento de contatos e vigilância se mostrou eficaz em conter a ameaça global em pouco mais de três meses."
Ela acrescenta ainda que "durante séculos, essas práticas têm sido a pedra angular das respostas organizadas aos surtos de doenças infecciosas".
"No entanto, o uso de quarentena e outras medidas para o controle de doenças epidêmicas sempre foi controverso, porque tais estratégias levantam questões políticas, éticas e socioeconômicas e exigem um equilíbrio cuidadoso entre o interesse público e os direitos individuais. Em um mundo globalizado que está se tornando cada vez mais vulnerável a doenças transmissíveis".
Vírus chega aos EUA e Europa
O infectologista João Prats, da BP - A Beneficência Portuguesa de São Paulo, acrescenta que a medida é extrema, gera sofrimento à população local, mas é uma ação importante.
"Hoje, se você olhar o mapa de voos ao redor do mundo, se uma pessoa fica doente em determinada localidade, é possível que a doença se espalhe rapidamente. A quarentena tem eficácia, mas prejudica a vida de uma monte de gente que não pode viajar", afirma
Antes do fechamento temporário, o aeroporto internacional de Wuhan tinha voos para mais de uma dezena de cidades internacionais — Tóquio, Osaka e Nagoya (Japão), Cingapura, Kuala Lumpur (Malásia), Seul (Coreia do Sul), Bangkok e Phuket (Tailândia), Nova York e São Francisco (Estados Unidos), Sydney (Austrália), Roma (Itália) e Paris (França).
Pessoas que vivem em Wuhan ou que viajaram para a cidade recentemente adoeceram em outros países. Foram confirmados casos exportados da doença nos Estados Unidos, França, Tailândia, Vietinã, Japão e Coreia do Sul.
Rosana reforça que o uso da máscara "não é suficiente para bloquear um surto como este".
Já o infectologista da BP acrescenta que "a maioria dos vírus têm uma capacidade grande de passar principalmente por contato, por superfície. "Se você não lavar as mãos, não adianta muito usar a máscara."
A quarentena, acrescenta a médica do Instituto Emílio Ribas, é necessária até que as autoridades consigam entender mais sobre o novo vírus.
"É preciso saber qual é a taxa de ataque desse vírus. Se você colocasse uma pessoa infectada em uma sala com dez pessoas, quantas iriam se infectar? Se for uma, a taxa de ataque é de 10%. A do sarampo, por exemplo, é de 90%."
Falta-se também da transmissão sustentada desse tipo específico de vírus. Os coronavírus, em surtos anteriores, não se espalhavam fora da área de origem com tanta facilidade.
"Não vimos ainda transmissão de pessoa para pessoa fora daquela localidade", observa Rosana.
Nesta semana, a OMS (Organização Mundial da Saúde) entendeu que o surto ainda não representa uma emergência global, mas reforçou que é motivo de alerta dentro da China.
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